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Maria Clara

O Problema Com A Shein

Atualizado: 11 de jun. de 2021

Com certeza você já ouviu falar sobre a marca de fast fashion. Vem que eu te explico tudo.



A Shein é uma marca de fast-fashion virtual criada em 2008 que a cada ano vem se tornando mais popular. A marca está crescendo tanto que migrou para outros segmentos afins como acessórios, papelaria, beleza, casa, e até artigos para animais.


Com as pessoas aderindo progressivamente ao comércio eletrônico, os e-commerce têm visto sua popularidade e patrimônio aumentarem. Ou seja, durante a pandemia esses dois fatores deram uma guinada gigante. Como as pessoas estão ficando em casa, a vontade de repaginar o guarda roupa se tornou uma realidade. É uma marca que se tornou a queridinha para essa tarefa foi a Shein.



Várias blogueiras, youtubers, influencers em geral, começaram a aderir a marca, tanto as mais famosas como as que ainda estão começando. Logo de cara esse conteúdo começou a bombar, tanto nas redes sociais como no Youtube. Por ela ser uma fast fashion, oferece peças em diversos tamanhos das últimas tendências por preços bem baixos. Um grande atrativo para seguidores dessas influencers, afinal de contas eles vão poder ter a mesma roupa que elas por um preço acessível. Quando eu digo preço acessível eu me refiro ao fato que as peças mais caras beiram os 180 reais (a grande maioria pois a marca lançou novas linhas de roupas mais caras, como a de seda).


A primeira coisa que vem à mente é que você vai pagar pouco e comprar muito, mas se você parar para pensar “como que a marca consegue vender um produto tão barato sem perder nenhum lucro?” você fica sem respostas porque a marca é completamente opaca.


Cada vez mais os clientes prezam por uma transparência da marca porque a sustentabilidade e a ética estão se tornando pilares fundamentais, como deveriam. A marca é exatamente o oposto de transparente, mal temos informações sobre o fundador da Shein, Chris Xu. Não se sabe onde as peças são produzidas nem nada do tipo. Esse mistério em torno desse último fator em especial faz com que pensemos que a marca tem algo a esconder, ainda mais por ser uma fast fashion. É uma escolha consciente não compartilhar essas informações com seus clientes.



Outro aspecto ligado à produção das roupas é a sua qualidade. Eu nunca comprei na Shein porém pesquisando sobre seus produtos eu diria que tem algumas peças que até tem uma vida durável relativamente longa, porém a grande maioria dos produtos tem uma qualidade bem baixa. Essa má qualidade é fruto dos tecidos utilizados, quase sempre sintéticos. Eles são um grande problema já que levam no mínimo décadas e décadas para se deteriorarem. Sendo assim, como os produtos não vão durar, os clientes terão que repor rapidamente essa peça que perderam, e assim um ciclo é criado. A consequência é uma produção desnecessária e absurda de resíduos têxteis, na maior parte do tempo sendo desperdício de tecido incorretamente descartável. Vale lembrar que a indústria da moda é a segunda indústria mais poluente do mundo. E com as marcas de fast fashion que só crescem, o problema só vai se agravar.


Com isso em mente temos que nos conscientizar na hora de comprarmos nossas roupas. Está na hora de uma revolução na moda ocorrer para que o meio-ambiente não seja mais afetado do que já está sendo. Temos que reavaliar os caminhos e modelos que a moda está seguindo, e assim buscar por soluções sustentáveis.



Já que tocamos nesse assunto de sustentabilidade e ética, eu acho importante ressaltar que a marca já foi acusada diversas vezes de ter roubado designs de outras marcas. Esse foi o caso da marca indie Valfré, que percebeu por meio de clientes que a alertaram que 5 de seus produtos poderiam ter sido plagiados pela Shein. Após a marca receber essas mensagens ela tomou ações legais contra a Shein. Acima você pode ver a comparação entre os produtos (à esquerda são os da Valfré), alguns são claramente cópias descaradas. Dito isso, tente apoiar essas marcas menores ao invés de consumir produtos de marcas como a Shein, onde a marca e seus produtos são problemáticos


Pedido de desculpas da marca

O último tópico que eu vou mencionar aqui é a insensibilidade da marca. Por volta de julho do ano passado, várias pessoas perceberam que a marca estava vendendo tapetes que eram muito parecidos com os que os muçulmanos utilizam para suas orações. A marca estava vendendo os tapetes como artigos de decoração, sendo que esses tapetes de oração são muito importantes para os muçulmanos, afinal faz parte da religião deles. Foi e ainda é um desrespeito imenso para essa comunidade. Não tem como um muçulmano não se sentir ofendido com a ação da marca. Ela estava usando a religião deles como fonte de renda, um caso óbvio de apropriação cultural. Esses são só alguns modelos, tinham outros sendo vendidos também.



Alguns dias depois a marca de novo mostrou sua insensibilidade, e as redes sociais ficaram, com toda a razão, em polvorosa. Dessa vez a marca estava comercializando um colar com um pingente de uma suástica (símbolo usado pelos nazistas). Assim como o acontecimento já mencionado não tem muito o quê desdobrar, o ato fala por si só. A comunidade judaica, assim como a muçulmana, foi desrespeitada por uma marca que só pensa em vender e que não tem o mínimo bom-senso e sensibilidade. Eu francamente acho que a marca é insensível mesmo porque apenas dias depois ela cometeu o mesmo erro sendo que pediu desculpas e procurou melhorar. Segundo o que a própria marca escreveu, ela formou um comitê de revisão de produto com integrantes de diversas culturas e religiões para que o erro não acontecesse de novo. E mesmo com esse comitê criado a marca cometeu o mesmo erro? Só nos faz pensar que não vai ser a última vez que algo do tipo acontece.


Desde 2018 o e-commerce vem lançando lojas pop-up, lojas temporárias. Como se fosse uma turnê, elas passam de cidade em cidade de um certo país.

Cada um avalia as suas prioridades e posicionamentos, mas eu diria que os fatores que eu citei são suficientes para rever suas compras na Shein. É preciso reconhecer que de acordo com os seus privilégios você não deveria comprar na Shein. Eu sou privilegiada e por isso posso adquirir produtos com uma melhor qualidade, preço e valor ético e sustentável. Porém não é o caso de todo mundo. Essas pessoas que não podem arcar com o custo dessas peças ficam sem opção e tem que recorrer as fast fashion. Isso já envolve outro problema que tem a ver com a indústria da moda, nesse caso, e como ela não faz o ético e sustentável mais acessível. Mas as pessoas que têm condições não deveriam comprar na Shein, não de maneira constante pelo menos, porque elas têm o privilégio de escolher outras marcas mais éticas e sustentáveis. Elas têm a opção de fazer a escolha certa.

Eu fiz isso por 0,6 dólares. Eu comprei isso por 50 dólares.

Por fim, se as pessoas não estão dispostas a abrir mão das suas roupas baratas (e de baixa qualidade) das fast fashion, um boicote e uma futura revolução não vão acontecer. E quem paga o maior preço são o meio-ambiente e as pessoas que trabalham para essas marcas.


Esse post não é de forma alguma uma condenação a quem consome os produtos da marca, é somente um post para informar a todos sobre a marca e seus problemas. Quando você compra um artigo de uma marca você está apoiando ela e amplificando a sua mensagem e poder. Não tem como separar o produto da marca. Se você compra produtos de tal loja você está sim compactuando com ela e suas ações. E está de certa forma de acordo ou então não vê problema no que ela faz, mesmo que não seja a sua intenção.


Espero que agora você tenha uma nova perspectiva da marca e de como você consome. Nem sempre o preço mais barato vale a pena.


 

Obrigada por ler e continue ligada(o) nos próximos posts.

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